segunda-feira, 5 de julho de 2010

Queda no preço do petróleo atrapalha plano de investimentos da Petrobrás

O comportamento do preço do petróleo nas últimas semanas reforça a necessidade de conclusão da capitalização da Petrobrás ainda este ano, na opinião de analistas ouvidos pelo Estado. A avaliação é de que a empresa pode precisar de novos financiamentos para cumprir seu programa de investimentos em 2010, estimado em R$ 85 bilhões, caso os preços continuem patinando perto dos US$ 70 por barril.

Segunda-feira, no sexto pregão seguido de queda, o petróleo Brent, negociado em Londres, fechou em US$ 71,47 o barril. O valor está bem abaixo da média de US$ 76 projetada pela estatal para garantir o fluxo de caixa necessário para seus investimentos em 2010. "Caso a projeção não seja atingida, a Petrobrás precisará de mais dinheiro emprestado para manter os investimentos", explica o consultor Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).

Isso porque a companhia planeja seu orçamento de acordo com um fluxo de caixa projetado segundo as variações do preço do petróleo. Pelas contas da própria empresa, cada dólar de variação na cotação média anual representa uma diferença de US$ 500 milhões em seu caixa. Ou seja, com petróleo a US$ 74, em média, precisará buscar no mercado US$ 1 bilhão para completar o caixa. Com petróleo a US$ 78, reduz em US$ 1 bilhão a necessidade de captações.

"A Petrobrás precisa investir, pagar impostos, dividendos. Se o preço continuar assim, vai precisar da capitalização, porque não pode mais tomar empréstimo", acrescenta um analista de banco de investimento, que pediu para não ser identificado. Com uma dívida superior aos US$ 100 bilhões, a Petrobrás está hoje no limite de alavancagem (relação entre dívida e patrimônio) para manter sua condição de investment grade.

Otimista

O plano de investimentos 2010-2014, que já contempla a emissão de ações, tem como parâmetro US$ 76 em 2010, US$ 78 em 2011 e US$ 82 nos anos seguintes. Os números surpreenderam, pois a estatal costuma ser conservadora nas projeções. Desta vez, em teleconferências com analistas, foi questionada por ter sido "otimista" ante a imprevisibilidade em relação ao crescimento mundial.

"Não dá para ter clareza em relação ao futuro da economia, o cenário vai de euforia a cautela em pouco tempo", comenta o analista de energia da consultoria Tendências, Walter de Vitto, que considera "razoável" a projeção da Petrobrás para 2010, mas alerta para o risco de não cumprimento das metas de produção, que também prejudicaria a geração de caixa no período.

Na média do primeiro semestre, a cotação do petróleo ainda está em torno dos US$ 78 por barril, puxada por picos de US$ 80 a US$ 90 atingidos nos primeiros trimestres. As projeções de analistas entrevistados pelo Estado apontam uma média anual entre US$ 75 e US$ 85 por barril, a depender do ritmo de recuperação da economia.

A capitalização estava prevista para o fim de julho, mas foi adiada por causa do atraso na certificação de reservas pela Agência Nacional do Petróleo (ANP). Agora, a Petrobrás pretende encerrar o processo até o fim de setembro. Pelas projeções do mercado, a empresa pode captar de US$ 50 bilhões a US$ 60 bilhões, garantindo espaço para buscar novos empréstimos.

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